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A patinha feia


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Eu não me lembro de quando exatamente me apaixonei pelos livros — porque eu não tenho lembranças de mim sem eles. Mas eu era a única. A única entre os filhos, a única na sala de aula, a única no grupo de amigas. Mesmo quando aparecia alguém que gostava de ler, não era taaanto quanto eu. Eu era a única da minha espécie.

Ou acreditava ser.

Quando você não tem com quem conversar sobre o livro que está lendo é chato, mas quando você não tem ninguém com quem conversar com o universo de questionamentos, transformações, magia, loucura, sonhos e possibilidades que a leitura proporciona, é pura solidão.

Quanto mais eu pensava sobre isso, mas eu desejava 𝒇𝒂𝒛𝒆𝒓 𝒍𝒊𝒗𝒓𝒐𝒔, embora não tivesse a menor ideia de como isso funcionava. Não sabia nem dar nomes pra isso. Cursos? Faculdade? Mercado editorial? Não sabia nada de nada e nem pra quem perguntar.

Na solidão das minhas inquietudes, só me restava escrever, “debruçar-me sobre a folha em branco e me perder no emaranhado das palavras e suas construções”, foi o que eu escrevi há muito tempo. Mas parecia impossível. Coisa de outro mundo.

E era mesmo, de um mundo bem distante do meu. Da minha realidade de gente que trabalhava o dia todo pra pagar apertadinho as contas no final do mês. Gente que até poderia ler um pouco, mas que se rendia ao cansaço e preferia dormir. De gente que não me ensinava o caminho porque também não o conhecia, também não aprendeu sobre ele.

Foi um longo percurso até aqui, tão longo que é melhor deixarmos pra outro dia. Basta dizer que, do pouco que agora sei, muito foram os próprios livros que iluminaram o caminho.

Sigo aprendendo, amando e lendo.

Sigamos.



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